domingo, 4 de novembro de 2012

Um Lamaçal de Palavras (O Gigante Pt.2)


         Os dedos finos e curtos cravados na terra, o joelho atropelava o vestido sujando-o na terra fofa e úmida. A garota, que parecia estar chorando, ficou um tempo ali, ajoelhada, com os braços esticados e as mãos segurando o chão. O cabelo negro, que tomava um tom desbotado em meio ao dia cinzento, lhe cobria a face triste, pálida e delicada.
        Uma gota caiu lentamente e se esparramou pelo chão, por incrível que pareça, não era uma lágrima, e sim uma gota de chuva, que foi seguida de algumas outras, suaves e leves, daquelas que ainda não estralam. Então o primeiro chuvisco tocou sua nuca, e pela primeira vez pode-se ver o belo rosto da menina, que levantou a cabeça para perceber que a chuva começava a nascer. Seus olhos eram grandes e castanhos, e seu nariz tão suave quanto a boca pequena e natural. Outra gotícula tocou a garota, dessa vez em seu nariz, ela se assustou e, de súbito, abaixou a cabeça, logo a ergueu novamente, dessa vez para contemplar o céu, antes límpido, agora negro e pesado.
        Um trovão que surgiu no mesmo momento que o relâmpago, como se abrisse as portas do céu, fez que a água começasse a cair forte e raivosa, barulhenta e mortal em fração de segundo. As gotas pesadas e grossas ardiam nas costas da garota, que então havia abaixado a cabeça novamente e encolhido um pouco o corpo para se proteger inutilmente da chuva. A terra que antes envolvia seus singelos dedos havia se tornado lama, uma lama preta que manchou de escuridão seu vestido branco. Um grito alto e carregado se seguiu de uma brusco movimento em que ela puxou as mãos para o céu levantando o barro que respingou tanto no vestido quanto em seu rosto, então ela estava de pé, com os braços erguidos com um punhado de barro nas mãos, deu uns dois passos cambaleando na terra, com a cara sofrida, enquanto seus pés afundavam um pouco, então parou, abaixou os braços e jogou o barro no chão. Olhou para o horizonte, bem longe, embaixo de uma árvore, no fim do pequeno morro de terra, um homem. Trajava terno e carregava um guarda-chuva, daquela distancia não era possível ver seu rosto, saber se era velho ou jovem. Ela puxou o ar, deixando o cheiro de terra molhada invadir seu corpo, e então soltou, inspirou de novo e correu... Correu desajeitada, tropeçando nos buracos que seus próprios pés abriam no chão, dava alguns pequenos saltos e continuava a correr. Ele estava longe, parecia que ela nunca chegaria lá.
        Mas no meio do caminho ela caiu, não notou a enorme cova em sua frente e caiu la no fundo, o buraco estava um tanto quanto empoçado. Virou-se, ainda deitada olhou pro céu ainda negro. Mesmo aquilo sendo uma cova, era muito aconchegante, ela gostava do lugar úmido como estava. Então sorriu, ficou ali rindo como nunca antes, soluçava de tanto rir, a chuva ainda chicoteava seu corpo e ela só ria, tanto que ficou sem ar e teve que parar pra respirar um pouco, mas logo começou a rir de novo. Estava de olhos fechados quando uma sombra se ergueu sobre ela, era o homem, quando percebeu deu um salto para trás e ficou sentada no canto da cova. Ele era grande, maior que os homens normais, um pouco desproporcional. Ergueu uma de suas grandes mãos para a garota que, hesitou por um momento mas logo agarrou a mão do homem, que na verdade não era um homem, e sim um garoto. Ele a puxou e tirou-a do buraco, tinha o dobro do tamanho dela. Então os dois foram embora em direção ao horizonte, embaixo do grande guarda-chuva negro, em um dia negro, com trajes negros ou sujos da mesma cor. O Garoto das pernas metálicas e a menina que falava com a terra.


Matheus Menegucci
@MatheusLecter

PARTE 1: http://insetosdecarne.blogspot.com.br/2012/09/o-gigante-pt1.html

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