terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Sete Dias, Dois Beijos


Foto por Julien Chaumet



                Regina caiu dura na faixa de pedestre. Uma bela queda em câmera lenta. Enquanto os joelhos se dobravam, o cabelo ruivo se punha a flutuar. Levemente, os braços se moveram um pouco para cima, fazendo-a parecer um anjo de vestido vermelho, preparando vôo em plena luz do dia. Mas logo se pôde ver que não era um anjo, pelo fato de ela não ter alçado vôo. Ao invés disso, ela caiu. Os joelhos beijaram o chão e amorteceram o resto do corpo, que logo caiu de lado na faixa.
                Uma pequena aglomeração de pessoas se formou ao seu redor, pessoas comuns, que não faziam a mínima idéia do que fazer naquele momento. E enquanto a vista ficava escura e ofuscada, Regina pôde ver dezenas de faces estranhas, faces cansadas e amarguradas. Sentiu-se bem. Viu que, mesmo morrendo, era mais feliz que todas aquelas pessoas que a cercavam. Felicidade! Afinal, o que é Felicidade?
                Já estava quase cerrando os olhos quando alguém cortou a pequena multidão, adentrando ao centro do circulo. Com pressa, ele se ajoelhou, pegou a mão de Regina e a beijou, do mesmo modo como um nobre cavaleiro beija a de sua donzela. Ela já estava com um sorriso no rosto, mas este se intensificou ao ver o rosto do rapaz, o amor de sua vida, um amor de sete dias que valeu por toda vida, um amor de sete dias e dois beijos. E o ultimo suspiro de Regina foi para dizer antes de sorrir e morrer:
                -Você veio! 


Matheus Menegucci

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cantiga do Homem Só


Saudades, saudades de sentir
Saudades, saudades de lidar
Com tudo que vive aqui em mim
Saudades, saudades de lembrar

Saudades, saudades de você
Saudades, saudades de ninguém
Em busca do espelho pra me ver
E nele tentar achar alguém

Saudades de um tempo atrás
Saudades do que acabei de falar
Saudades da mulher que seca o pranto
Depois de tanto pedir pra eu ficar

Saudades do abraço que dei nela
Um segundo antes de a deixar
Saudades das novidades que eram velhas
E eu dizia não ter ouvido falar

Saudades, Saudades dela
Saudades, Saudades de Lá
Saudades de uma moça tão bela
Que eu nunca mais pude beijar



Matheus Menegucci

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sereno e o Mar




                Os pezinhos do garoto balançavam, apontados para o mar, descalços e saindo de uma calça moletom. Era um dia frio, e nesses dias, sabe-se lá por que, o garoto gostava de sentar à beira do cais e ficar só observando o horizonte frio e congelado.
                Não havia muitos barcos ali, só um. “Sereno” era o que estava escrito na proa da pequena embarcação. O garoto gostava de barcos, principalmente daqueles pequenos à vela, como Sereno. Era possível ver um rapaz sentado no barco, do mesmo jeito que o garoto, com os pés apontando para o mar, pensativo.
                O rapaz do barco percebeu que o garoto estava olhando, mas não se importou, continuou observando o mar frio. Após um tempo, saiu da beira do barco e se aproximou do cais, desprendeu uma corda que prendia Sereno. Foi para dentro, ligou o motor e, antes que o barco começasse a se mover, saiu e acenou para o garoto, como que diz “Adeus!”.
                -Mas já? –Gritou o garoto enquanto se levantava com pressa - Por quê?
                -Pelo mar, meu amigo! –Respondeu o jovem astutamente - O Mar quer que eu vá!
                -O mar? Mas... Para onde ele quer você vá?
                A essa altura o barco já estava um pouco distante, os obrigando a gritar mais alto.
                -Como assim “para onde”? Ora, para o mar.
                Os olhos do garoto brilharam com a resposta, sem falar do arrepio que lhe subiu pelas costas. Então, lentamente, ele ergueu um dos bracinhos e acenou bem devagar, como se despedindo de um velho amigo. Não é fácil dar adeus a um irmão. E enquanto o jovem sumia no horizonte frio, algo ecoava na cabeça do menino:
                “Pelo Mar... Para o Mar!”


Matheus Menegucci