domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sobre o Mal proveniente do Bem...

 Sobre o Mal proveniente do Bem...

        -Papai?
        -O que foi meu filho?
        -O que acontece depois que a gente morre?
        -Nós vamos para o céu, mas só se formos bons.
        -E se formos pessoas más?
        -Se formos pessoas más iremos para um lugar ruim, chamado inferno.
        -E qual a diferença entre os dois?
        -No inferno você sofre e no céu você é feliz.
        -Mas e se você for para o céu e eu ir para o inferno? A gente não vai se ver?
        -Que isso menino?-Ele estava bravo-Você não vai pro inferno. Agora pare de encher o saco e vai brincar.
        O garoto não brincou, ficou a tarde toda pensativo, "por que Papai ficou tão bravo?", ele era muito jovem para entender. No dia seguinte, ele voltou a conversar com o pai.
        -Papai, se Deus manda os homens ruins para o inferno, então ele é mal, ele devia perdoar. Não devia?
        -Ele perdoa meu filho, todos têm uma segunda chance, só vai pro inferno quem quer.
        -Então eu posso ser a pessoa mais má do mundo e mesmo assim ir pro céu?
        -Sim, desde que você se arrependa de verdade...
        -Mas e se eu me arrepender de ter sido bom?
        -Então você...- O pai não sabia o que dizer, ele pensou, pensou mas não chegou em nenhuma conclusão.

       E se fizéssemos o bem, mas tal ação causasse uma reação, que mesmo sendo boa para a maioria, te prejudicasse, o arrependimento de ter feito algo bom, seria algo ruim? Algo egoísta? Qual seria o destino de quem não faz o bem, não por ser mal, mas por acreditar que o bem traga o mal para si.
        O que move o mundo é a maldade. A maldade faz o bem querer existir, pois se existisse paz (ausencia de todo o mal), não haveria progresso, e nenhum de nós estaría aqui.

Budda

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mortos e Quietos


Mortos e Quietos

        O ralo do banheiro exalava um odor repugnante, Laura, oito anos, passava mal ao sentir aquele odor horrível, ainda se perguntava por que sua avó nunca lavava o banheiro, ou mandava alguém desentupir aquele ralo nojento.
        -Vovó, por que o papai ainda não voltou?
        -Ora, pequena Laura, ele está morto. –A avó respondeu de um modo tão frio e inocente, sem perceber.
        -Mas a mamãe disse que ele voltaria.
        -Como ela pode ter dito, se ela também está morta? –A velha era inexpressiva e olhava em direção ao nada.
        -Mas, quando ele saia ela sempre dizia que ele voltaria. –Laura afirmava tão inocentemente, nem reagia ao ouvir a avó dizer que seus pais estavam mortos.
        -Laura... Deixe a vovó tricotar em paz.
       Laura se calou e saiu da sala.

       A casa era escura e cheia de infiltrações e goteiras, era tão úmida e fétida, era possível perceber uma leve camada de musgo crescendo no canto das paredes acinzentadas, alguns insetos criavam ninhos e populações nas enormes rachaduras das paredes, Lagartixas vagavam pelo teto aos montes, e casulos de mariposa eram comuns embaixo de mesas, cadeiras e moveis. Laura não se importava em viver naquelas condições, gostava do frio e da umidade, gostava ainda mais de viver em contato com os bichos, adorava insetos e repteis. Sua avó, não se importava com nada, desde que todos morreram, ela só ficava sentada naquela poltrona suja e desconfortável, só levantava para ir comer, e mesmo assim, comia uma única vez ao dia, e inevitavelmente, a comida estava acabando, nenhuma das duas se prontificava a ir comprar algo, de qualquer modo, não havia sobrado dinheiro. Laura, que era apaixonada pelos insetos, não se importava em ter de comê-los, adorava o gosto, adorava sentir suas entranhas descendo por sua garganta.
        -Vovó, e o vovô? Faz tempo que não o vejo.
        -Ah! –Suspirou- Seu avô, aquilo era um homem bom.
        -Mas onde ele está- era estranho, ela realmente não sabia.
        -Laura, Laurinha, Laurete –Soltou uma risadinha rápida e ficou seria- Ele também morreu, assim como seus tios, primos e irmãos.
        Laura não se comoveu, continuou fria como sua avó.
        -Então com quem eu vou brincar?-Resmungou.
       - Ora, brinque com eles, vá lá e mostre seus bichinhos para todos eles- Vovó tira uma grande chave do bolso e dá à Laura- Mas vá rápido que já está tarde.

        O grande quintal estava coberto de mato e tralhas de seu avô, a grama era saudável, verde e alta, umas duas vezes o tamanho de Laura. No fundo do quintal era possível ver a casinha onde seu avô fazia moveis de madeira, e lá estava Laura tentando a alcançar o cadeado que prendia as grossas correntes, “Droga!” ,ela não alcançava, parou, pensou, olhou ao seu redor, “É isso!”, ainda bem que seu avô guardava todas aquelas tralhas. Arrastou um grande e pesado motor enferrujado de carro até a porta, subiu e destrancou a oficina do vovô, entrou, estava radiante, seu rostinho sumia no escuro, mas era possível ver seus olhos brilhando de alegria, estavam todos lá, Papai, Mamãe, o irmãozinho que ainda nem saíra de sua mãe, os dois primos, o tio e a tia, eram lindos, sem olhos, pálidos e putrefatos, Laura ficou horas brincando, ignorando o aviso da avó para que voltasse cedo.
        
         No dia seguinte, Laura voltou à oficina, sua roupa estava suja de sangue seco, uma notável pintura vermelha em seu vestido branco, Laura se sentou entre a mamãe e o papai, começou a brincar inocentemente, mamãe virou e olhou para ela:
        -Cadê a sua avó?- Estava brava.
        -Ah! A Vovó –suspirou- aquilo era uma mulher.
        -Mas onde ela está?- Perguntou mamãe, inpaciente- Diga.
        -Acalme-se mamãe- Disse Laura com um tom irônico- Ela esta lá dentro, morta e sem olhos como vocês, mas eu sou muito pequena para trazê-la, não se esqueça que foi ela que me ajudou a trazer vocês aqui, agora eu não tenho mais ninguém para me ajudar, vocês vão ter que esperar um pouco para brincar com ela.
    
       Pobre Laura, tão pequena, tão insana, personalidade dupla, esquizofrenia, tão voraz com insetos, tão hábil para matar, uma artista, das mais raras. E agora, o que faria, estava só, com seus insetos, sua casa úmida e os olhos de seus parentes, no fundo ela sabia, era hora de exibir sua arte para o mundo.

BUDDA

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Fetiches, Propostas e Verdades


Fetiches, propostas e Verdades

        O cheiro de sexo e morte era cada vez mais forte, o corredor estava escuro, iluminado apenas por uma luz verde no fundo de um quarto entreaberto, era o bordel mais sujo e repugnante em que Paulo já esteve. Andava lentamente sobre o chão de madeira que rangia tão alto que era possível se ouvir do quarto onde uma puta o esperava. Desde quando fizera 15 anos, Paulo tinha fetiche por sexo com tortura, ele acabava de cruzar a porta do quarto, a cama velha e minúscula tinha correntes presas a ela, a mulher estava totalmente nua, somente com uma mascara de couro preto com aberturas para os olhos e a boca, ele olhou para ela, era pálida e magra, os seios de uma mulher já desgastada, apostou consigo mesmo que ela tinha quase 40 anos. Paulo despiu-se, o corpo magro e esguio chegava a ser assustador, cheio de ferimentos e cicatrizes, algumas de automutilação, outras de fetiches sexuais. Paulo ainda não sabia, mas o diabo o estava ali, naquele exato momento, naquele mesmo quarto.
        A mulher aproximou-se e prendeu Paulo à cama, e então começou mais uma de suas muitas fantasias, cortes, enforcamento, sexo, tortura, muito sexo e um inacabável fluxo de sonhos e pensamentos orgásticos, o que para muitos seriam apenas bizarrices, para Paulo e o diabo que o observava, era arte, a mais pura arte, a arte de embriagar-se de sangue, sexo e dor, e para o diabo, Paulo era o maior dos artistas dessa arte obscura.
        A cena era ambientada por uma trilha sonora pesada, um metal tão obscuro quanto o sexo, Paulo admirava a dama sobre ele, um súbito piscar de olhos, a musica parou, outra tão suave e melódica invadiu o lugar, o coro suave de mil anjos mortos invadia a mente de Paulo, a mulher, estava parada, petrificada, Paulo se desprendeu e saiu debaixo dela:
        -Saudações Paulo- Disse o diabo, vindo das sombras- eu realmente sou um grande fã.
       -Quem é você? Onde você tá?- Paulo ainda não tinha o visto, estava histérico- Aparece!
       -Aqui atrás- o diabo disse suavemente em quanto Paulo se virava- perdoe-me, não me apresentei, pode me chamar de Pai, de fato, eu não sou seu pai, eu sou o diabo, eu estava lá, no dia de sua concepção, desculpe minha indelicadeza, mas sua mãe era uma delicia.
        Paulo analisou, não era como ele sempre imaginara, o diabo era um homem alto, um cavanhaque perfeito, o rosto maduro e sedutor, cabelo liso, curto e penteado, trajava um terno preto, mesmo um homem diria que ele era lindo, parecia ser bem humorado, Paulo não sentia nem um pouco de medo, só uma ansiedade enorme, era o diabo, o momento pelo qual sempre esperou:
       -Então, o que faz aqui?- perguntou Paulo.
       -Pra falara verdade, eu sempre estive com você, sempre observei sua mente doentia, você é o mestre na arte do fetichismo e da dor, e hoje eu vim lhe fazer uma proposta.
        -Diga então sua proposta.
        -Ainda é cedo para isso, aceita uma bebida?
       O Diabo nem ao menos esperou a resposta, e de repente os dois estavam em uma taberna, obscura e deserta, estavam sentados, um de frente para o outro, e então eles começaram a beber. O diabo amigavelmente disse:
       -Paulo, já deve ter percebido que tenho um grande interesse em você, eu quero que me conte sua historia, na verdade, eu sei sua historia, mas eu gostaria de conhecê-la sob seu ponto de vista, então, comece.
       Paulo estava tímido e relutante inicialmente, mas logo se soltou, e começou:
        -Bom, desde que me entendo por gente eu tenho sonhos e pensamentos obscuros, pensamentos que nem eu entendo, aos 15 anos me tornei viciado em sexo e flagelação, eu sempre quero me punir por algo, talvez algo que eu não fiz, ou que fiz e me esqueci, eu trabalho em uma lanchonete, não ganho mais que o suficiente para comprar drogas e sexo, sou a pessoa mais moribunda que conheço.
       -Moribundo? Não, você é um gênio, simplesmente deixou fluir da maneira certa, você não tem arrependimentos, não é? Foi o que eu pensei, mas responda-me uma coisa, onde estão seus pais?- Perguntou o diabo com um tom provocante.
       -Estão... Estão lá... Ora... Eu não sei onde eles estão- estava suando frio- Onde eles estão? Onde?
        -Ora, ora, ora, fui eu quem perguntou. Você não se lembra? Você os matou, não se lembra do rio no fundo da velha casa da falecida vovó.
        -Eu não os matei- agora estava histérico
        -Se você diz, mas... Quando foi a ultima vez que os viu?
        Paulo refletiu, pensou, pensou e não chegou a lugar algum, um suspiro de horror, ele se acalmou e disse:
        -Eu nunca os vi...
        -E você sabe por que nunca os viu?
        -Por que eu os matei...
        -Errado, você não os matou, foi só uma brincadeira -uma risada provocante- Você nunca os viu por um único e patético motivo, você nunca existiu, você não se lembra de nada antes dos 15 anos, você sempre esteve sozinho, as prostitutas nunca existiram, seu mundo nunca existiu...
        Paulo já havia se conformado, mas ainda se questionava, então perguntou:
        -E você? Você é real? Já que tudo em meu mundo não existe, você não existe.
        -Não, não, não, eu existo, você existe, mas não do mesmo modo que as outras pessoas, na verdade, você não é uma pessoa, você é um objeto, uma sábia marionete, o escritor das mais sábias palavras que jamais serão ditas, você, Paulo, é um pequeno fragmento que escapou da minha vulnerabilidade, você é minha consciência, é incrível o modo como você ficou inerte por tanto tempo, sendo a parte mais vulnerável do meu ser.
        Paulo estava sedado após tantas palavras, palavras que lavaram sua alma, se é que ele tinha uma:
        -Mas, e toda aquela conversa sobre minha concepção, sobre sua proposta, sobre eu ser um artista?
        - Paulo, era tudo conversa fiada, eu precisava te convencer a vir, e sobre a proposta, acho que já está na hora de você sair do eterno limbo que é sua vida, por todo esse tempo, eu sinto cada erro seu, cada pensamento bom, a minha proposta é te levar comigo, você será de novo o ser perfeito, você aceita?
        -Bom- Paulo pensou por um momento- Já que eu sou um nada em meu mundo irreal, eu aceito...
        -Então vamos, novo servo- Disse o diabo.
       Então Paulo percebeu, mentiras, fora a única vez em que se sentiu importante, sabia que era real, mas agora, era tarde, o diabo o arrastava pelos portões do inferno, e ele desaparecia em meio ao eterno brilho ardente do pecado. Paulo, mais um que se deixou levar pelas sabias palavras do diabo, o colecionador.


Budda
Twitter: @MatheusLecter

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O segredo dos seres que vivem no escuro

 E quando a Dor é só uma mera consequencia do seu arrependimento?


  O segredo dos seres que vivem no escuro

        Quando as arvores estão quietas, e o vento não toca sua face, neste momento, sinta um olhar vindo das trevas, em sua direção.
        Ouça, suavemente, a melodia que só se ouve no silencio de uma noite sombria e fria. Grite, faça o que quiser, só não vá ao escuro, é lá que eles vivem, é lá que eles estão.
        E se alguém perguntar: ”O que temes?” diga para que fechem os olhos, desse modo eles saberão a resposta.
        Então se vire e vá embora, mas leve tudo o que aprendeu, e jamais se esqueça: “Para que haja luz, só é preciso abrir os olhos.”


Twitter: @MatheusLecter

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Carne da Cupla de Narciso


A carne da culpa de Narciso

        Há dias ele não saia de casa, aquela grotesca forma em sua testa o atormentava cada vez mais. Era de manhã, ele se levantou, a luz do sol nascente era de um magnífico laranja, ele olhou no espelho, o enorme caroço em sua testa estava ainda maior, agora, havia ficado roxo, ele tocou, a coisa era quente e pulsava, o grande homem estava assustado, não sabia o que era aquilo, mas era narcisista demais para ir a um medico e permitir que alguém o visse com aquela aberração que parecia ter vida, não era uma espinha gigante ou um cravo, não era um furúnculo repugnante ou uma inflamação, era o ovo de sua mente podre.

        Cinco dias, insônia, tédio, angustia, preso em sua casa, “o caroço vai desaparecer!” Era a única coisa que ele dizia para si mesmo, o telefone não toca, “ninguém se lembra de mim”, a loucura o apertava mais e mais.
        “Mas que diabos!” Ele sentia a coisa crescer ainda mais, uma pequena ponta com pus havia surgido, já estava de tarde, ele se debatia, aquilo realmente estava acontecendo? O pus agora escorria em seu corpo, o caroço estava pesado, ele tinha que segurar para que não puxasse sua cabeça para baixo, agora ele era uma aberração, do mesmo tipo que sempre desprezara.
        Espremeu, espremeu, apertou, só conseguiu aumentar sua dor e deixar o tumor ainda mais pulsante, roxo e nojento, ele chorou, gritou, ninguém o ouviu, as paredes do apartamento eram grossas, o tumor já era do tamanho de sua cabeça, e parecia estar tomando forma, ou talvez fosse só outro de seus delírios.
        Estava cabisbaixo e quieto, o tumor agora havia se acalmado, então ele decidiu que era hora, foi pra cozinha e pegou a faca, começou lentamente a cortar as bordas do caroço em sua cabeça, a dor era insuportável, e ele gritava, cortava, dilacerava, o sangue e o pus escorriam pelo seu corpo e pelas suas mãos, era a cena mais repugnante que se podia imaginar em um quarto escuro e úmido.

         E então, lá estava, um homem com uma grande ferida no rosto, e um tumor gigante jogado no chão, era possível sentir o cheiro de culpa e pecado vindo da carne podre do caroço, agora o homem estava livre para criar outro pedaço de carne podre em si, errar, abusar e se lambuzar no desejo, afinal, para fazer a redenção só é preciso cortar o tumor que bloqueia nossas mentes e atitudes, e então podemos ser livres pra abusar mais uma vez.

Budda

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Irmãs Sem Nome


Irmãs sem nome

        E lá estava ele, sentado no banquinho manco do balcão, acabava de pedir mais uma bebida, sua vida havia se resumido somente a isso, bares e prostitutas, acabara de perder o emprego, e não restara nenhum membro de sua família vivo. Frequentemente se questionava por que só ele ainda estava lá, ele sempre foi o fracassado, a decepção da família, em sua vida inteira, a única realização significativa que tivera, foi ser promovido de entregador de pizza a gerente de uma pizzaria suja no subúrbio, para posteriormente ser demitido e gastar o que restava de seu dinheiro com drogas e mulheres. Tinha 43 anos, seu nome era José, seu pau mal funcionava sem Viagra, já pensara em se matar, mas era covarde demais para matar alguém, mesmo que esse alguém fosse ele mesmo, uma vida tão deprimente e inútil.

         A noite estava apenas começando, quando uma mulher com belas pernas brancas entrou no bar, ela era linda, José se perguntava o que uma mulher daquela fazia em um bar tão imundo, vestido preto, seios fartos, loira, era o sonho de consumo de muitos homens, mas mesmo achando ela linda, José não se interessou pela moça, ela não era o “tipo” que ele gostava, e ele também sabia que nunca teria uma chance com ela, José continuou a tomar sua cerveja em paz. Meia hora depois de a bela moça entrar, outra entrou, oriental, também trajava um vestido preto, Aquele sim era o tipo de mulher que José gostava, ele a observou enquanto ela se sentou em uma mesa se juntando à loira, por um momento, uma cena de erotismo passou pela mente imunda de José, que por sua vez teve uma leve ereção, ele estava hipnotizado, olhava descaradamente para as duas, havia pelo menos um ano que ele não comia ninguém de graça, e sabia que não comeria ninguém, mas só imaginar o deixava louco, as mulheres perceberam o olhar descarado de José e deram uma risadinha entre si. Dez minutos depois, a loira se levantou e se dirigiu ao balcão, parou ao lado de José e pediu uma bebida à balconista, discretamente ela virou o rosto, olhou para José e disse:
        - Nós vimos você olhando, safadinho!- logo depois soltou uma risadinha singela.
        - É!- Ele estava vermelho de vergonha- é que eu não pude evitar, você e sua amiga, vocês são lindas, sinto muito se eu fui meio... Indelicado.
        -Não liga pra isso, bobinho. E ela não é minha amiga, nós também nos conhecemos agora, é que nós duas estamos procurando pela mesma coisa.
        -E o que é que vocês procuram?
        -Diversão- lançou um olhar sensual e deu outra risadinha- você não quer se juntar a nós?
        -Ora! É claro, por que não? Vamos.
        Os dois se dirigiram à mesa e se juntaram a moça oriental, José nem ao menos se perguntou o que elas tinham visto nele, ele só se sentou e disse:
        -Então! Como vocês chamam?
        -Nada disso mocinho, nada de nomes, só diversão- disse a japonesa.
        -Isso mesmo, hoje será a primeira e ultima vez que nos veremos, então, nada de nomes- palavras da loira.
        -Entendi, então, que venha a diversão!
        Os três passaram horas conversando, fumando e bebendo, risadas descontroladas, nuca tinha se divertido tanto. Em sua cabeça, tudo já estava rodando, mudando de cor, a imagem ficava distorcida, e eles continuavam rindo, um leve ruído agudo crescia, cada vez mais alto, mais agudo, mais forte, as vozes estavam mais rápidas, as risadas eram tão distorcidas, já não via nada, só o escuro, o profundo e calmo escuro.
        -José, acorda.
        A loira o acordou, na verdade ele identificou pelos peitos, porque não levantou a cabeça para olhar seu rosto, olhou em volta, o bar estava vazio, nem um balconista, ninguém, só os três, estava tão escuro, ele pensou por um segundo, e disse:
        -Que horas são? Por que não tem ninguém aqui? E do que foi que você me chamou?
        - José, acalme-se, eu só te chamei de José, não é esse o seu nome?
        -Mas, e aquela conversa sobre não dizer nomes?
        Ele levantou a cabeça, e quando viu o rosto dela ele ficou perplexo, não havia olhos, só duas narinas, e uma boca enorme cheia de dentes, olhou para o lado, a japonesa também era assim, ele se levantou rapidamente e saiu correndo para o fundo do bar enquanto as duas ficavam nuas e não paravam de rir.
        -José, nós só queremos nos divertir um pouco- as duas disseram juntas.
        -Saiam daqui, o que vocês são?
        José gritava, sem parar, tudo girava novamente enquanto elas se aproximavam, ele caiu sentado, as duas se aproximaram mais, ele pode ver um rabo atrás de cada uma, suas caldas também eram lindas, isso ele não podia negar, mesmo parecendo demônios, elas eram lindas, então ele parou de tentar fugir. Quando deu por si, estava gemendo e suando, as duas criaturas infernais, lambiam e beijavam-no, enquanto uma fazia sexo com ele, e outra ficava se excitando, elas não gemiam como mulheres, elas gritavam de um jeito agudo, de uma forma tão excitante e erótica, a japonesa, que estava fazendo sexo, parou por um momento, abaixou a cabeça, abriu a boca, uma língua enorme com um ferrão saiu de sua boca, a loira se levantou e disse para a outra:
         - Tem certeza? Agora?
         - Como assim, o que vocês vão fazer?-disse José.
       As duas dirigiram seus rostos sem olhos para José que estava amarrado a uma cama, suas línguas se aproximaram do corpo de José, e de repente, um salto, José cai de costas do banco manco do bar, gritando, todos olham para ele, inicialmente ele se senta, e depois começa a rir, ”foi só um sonho”, ele se levanta, paga pelo que bebeu, e vai em direção a saída, de repente ele sente algo, olha para seu peito, e seu coração esta sangrando, dois enormes buracos jorrando sangue, vozes de gemidos e sons de sexo.
        -Ei José!- duas vozes femininas.
        José se vira, em choque e tremendo, ele olha para a mesa e as duas mulheres estão lá, a loira e a oriental, elas têm faces, e estão rindo histericamente. José, sem acreditar, começa a fraquejar, sua visão fica embaçada, ele cai, e ainda vivo, percebe que ninguém vai ajudá-lo, afinal, ele nem ao menos está ali de verdade, e enquanto tudo fica escuro, ele ouve a risada demoníaca das duas:
        -José! Safadinho! Nada de nomes! Nós não temos... E muito obrigado pela sua alma.