terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Carne da Cupla de Narciso


A carne da culpa de Narciso

        Há dias ele não saia de casa, aquela grotesca forma em sua testa o atormentava cada vez mais. Era de manhã, ele se levantou, a luz do sol nascente era de um magnífico laranja, ele olhou no espelho, o enorme caroço em sua testa estava ainda maior, agora, havia ficado roxo, ele tocou, a coisa era quente e pulsava, o grande homem estava assustado, não sabia o que era aquilo, mas era narcisista demais para ir a um medico e permitir que alguém o visse com aquela aberração que parecia ter vida, não era uma espinha gigante ou um cravo, não era um furúnculo repugnante ou uma inflamação, era o ovo de sua mente podre.

        Cinco dias, insônia, tédio, angustia, preso em sua casa, “o caroço vai desaparecer!” Era a única coisa que ele dizia para si mesmo, o telefone não toca, “ninguém se lembra de mim”, a loucura o apertava mais e mais.
        “Mas que diabos!” Ele sentia a coisa crescer ainda mais, uma pequena ponta com pus havia surgido, já estava de tarde, ele se debatia, aquilo realmente estava acontecendo? O pus agora escorria em seu corpo, o caroço estava pesado, ele tinha que segurar para que não puxasse sua cabeça para baixo, agora ele era uma aberração, do mesmo tipo que sempre desprezara.
        Espremeu, espremeu, apertou, só conseguiu aumentar sua dor e deixar o tumor ainda mais pulsante, roxo e nojento, ele chorou, gritou, ninguém o ouviu, as paredes do apartamento eram grossas, o tumor já era do tamanho de sua cabeça, e parecia estar tomando forma, ou talvez fosse só outro de seus delírios.
        Estava cabisbaixo e quieto, o tumor agora havia se acalmado, então ele decidiu que era hora, foi pra cozinha e pegou a faca, começou lentamente a cortar as bordas do caroço em sua cabeça, a dor era insuportável, e ele gritava, cortava, dilacerava, o sangue e o pus escorriam pelo seu corpo e pelas suas mãos, era a cena mais repugnante que se podia imaginar em um quarto escuro e úmido.

         E então, lá estava, um homem com uma grande ferida no rosto, e um tumor gigante jogado no chão, era possível sentir o cheiro de culpa e pecado vindo da carne podre do caroço, agora o homem estava livre para criar outro pedaço de carne podre em si, errar, abusar e se lambuzar no desejo, afinal, para fazer a redenção só é preciso cortar o tumor que bloqueia nossas mentes e atitudes, e então podemos ser livres pra abusar mais uma vez.

Budda

2 comentários:

  1. *pokerface. Karaalho matheus . dooente . kkkk . poww mais tirano a sua pisocose fiiico feraa pra kacete man. quanta criatividade '')
    #muitoshow.

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