quarta-feira, 25 de julho de 2012

À Sombra


        Eram só duas crianças, um menino e uma menina sob a grande arvore no campo, a tipica cena romântica dos filmes melosos, mas algo ali não parecia romântico,  primeiro que o dia estava pintado em um tom de cinza, a grama dos campos não era tão verde e chuviscava de leve. Mas quando digo que não parecia uma cena romântica, quero dizer que não parecia romântico do modo "padrão" de ser, pois a meu ver era, a cena mais linda vista pelos meus olhos, mas quem sou eu mesmo? Ninguém, exato, eu sou só o narrador, não vamos perder o foco. Mas o que fazia a cena tão bela, é que em meio a escuridão do dia, os dois corpinhos miúdos estavam de mão dadas, os dois miravam o horizonte, quietos, balançavam levemente as mãozinhas unidas e inocentes.
        Creio que ainda não mencionei, estávamos durante a Segunda Guerra Mundial, e lá no horizonte, era possível ver os "soldadinhos", e digo "soldadinhos" pois estavam longe, batalhando, e balas voando pelo céu, e aviões bombardeando. As crianças só observavam, frias, sem reação, pois sabiam que aquilo era um retrocesso de tudo que a especie humana já havia sido. Ali perto da arvore, não tão perto assim, havia uma casinha de madeira, toda perfurada de balas, a luz atravessa os buracos, alguns corpos do lado de fora, algo ali dizia que os soldados passaram exterminado os pobres, "Por quê?" Era só o que me vinha a cabeça, talvez fosse uma família de judeus, se bem que àquela altura da guerra, uma família de judeus não ficaria por aí "dando sopa", mas isso não vem ao caso. Voltando à cena principal, as crianças, debaixo da arvore, já não olhavam para o horizonte, para a guerra, estavam um de frente para o outro, o dia estava ainda mais cinza, o garotinho gesticulou com a mão dizendo para que a garota prestasse atenção, contou no dedos lentamente: Um, Dois, Três... E subiram a arvore ligeiramente, sentaram-se no galho grande, um ao lado do outro, e voltaram a observar a guerra.
        Em pouco tempo, o barulho dos tiros já havia cessado, ao longe, o campo de batalha coberto de corpos, não sei dizer exatamente que lado venceu, mas isso é irrelevante. No galho, os dois, achei estranho estarem cada um segurando uma corda com um laço. Repentinamente eles viraram um para o outro, simultaneamente, balançaram a cabeça como quem diz "Sim", a garota passou o laço no pescoço do garoto, que fez o mesmo nela, abraçaram-se, o garoto novamente contou bem devagarinho com os dedos até três...1, 2, 3... Então lá estavam dois corpinhos no escuro, perdurados à forca, balançando levemente de um lado para o outro, em um por-do-sol escuro e cinza, duas sombrinhas pairando no crepúsculo preto e branco, simbolizando cada erro da especie, cada gota de esperança que foi jogada aos animais, simbolizando o começo, por serem crianças, e o fim, por estarem mortos... Simbolizando a forma distorcida que o homem se transformou.

Matheus Menegucci