Cansou-se
do mundo, viu que o céu não era tão azul, viu que aquilo não era um conto de
fadas, “Que pena!”. A garotinha de cabelo azul-claro queria tanto acreditar que
fosse, queria tanto viver onde pelo menos os personagens são diferentes uns dos
outros, onde nem todos são robôs programados. Queria algum ato heroico, ou uma
historia totalmente sem sentido que ao menos fosse menos... Monótona.
E
naquele dia, enquanto pulava amarelinha sozinha no parquinho e segurava pela
perna seu coelho de pelúcia, algo diferente aconteceu, finalmente. Mas
infelizmente, não foi algo bom, mas ela sabia que o final feliz só vem depois
do drama e da tragédia. Era de tardezinha, faltava algo em torno de meia hora
para o pôr do sol, mas o céu não estava com aquele tom bonito de se ver. Estava
verde, como um rio poluído, e para completar a pintura, as nuvens eram
amareladas e feias. O primeiro a cair era branco, fez um estralo alto ao se
chocar com o chão, quebrando suas asas e o pescoço. O segundo caiu ao lado da
menina, que por sua vez ficou apavorada. Olhou para o céu, o que viu era horrível,
o peito apertava. Centenas de pássaros, brancos, negros, de todas as cores,
caindo do céu, chocando seus corpos contra o chão frio de concreto. Estava
horrorizada, podia fugir para não ver aquilo, mas decidiu ficar ali parada,
agora olhando para o chão, sentido o gosto salgado das lagrimas que desciam dos
olhos até a boca, ouvindo os corpinhos se estatelando no chão.
Soltou
o coelho de pelúcia, ele era amarelado e encardido, devagarzinho tocou o chão,
agora empoçado com o sangue das aves, ficou manchado de vermelho escuro. O
sangue dos pássaros, que se espalhava cada vez mais rápido pelo chão, havia “engolido”
o coelho, e agora estava consumindo a garota, subindo por suas pernas, como se
tivesse vida própria. Vermelho e escuro, já chegava ao joelho, ela nem se
mexia, só tremia, não de medo, de raiva, não suportava ver criaturas inocentes
morrendo, sempre quis ser um pássaro. A revolta e o ódio haviam consumido uma
pequena criança inocente, os cabelos azuis agora também estavam sujos de
sangue. Ergueu a cabeça, os olhos grandes, castanhos e brilhantes se destacavam
no rosto sujo de sangue, tomou fôlego para gritar, gritar o mais forte que
podia, e quando foi soltar o ar, fraquejou e caiu de joelhos.
Ergueu
os olhos e a cabeça, estava limpa, não havia sangue, muito menos pássaros
mortos. Só um dia normal, preparando-se para o anoitecer. Os joelhos ralados
beijando o chão, as mãos se esforçando para sustentar o peso do corpo imposto
sobre elas, e o coelho jogado sobre a terceira casa da amarelinha, a garota
estava de joelhos sobre a segunda. Pegou-o, e como se ele tivesse vida, abraçou
o pequeno boneco de pelúcia. Os lábios finos e rosados da garotinha tremiam, e
com um sussurro ela falou com o coelho:
-Não
deixe que nada aconteça a eles, por favor! Nem a mim...
Engoliu
o choro que estava prestes a sair, levantou-se e foi para o horizonte, rumo a
sua casa, ao seu próximo sonho, pesadelo... Ou uma aventura real, surreal de um
digno conto de fadas.
Matheus Menegucci