O grande espelho no
canto do quarto, límpido e surreal, refletia uma jovem de traços
suaves e sem expressão, com olhos fixos em seu reflexo, mas
distantes de qualquer coisa. Ela estava sentada de pernas cruzadas,
com os braços jogados sobre os joelhos, em um puff
quadrado e preto que contrastava com toda a infinidade de branco do
quarto. Paredes brancas, chão branco, móveis
brancos...
Pele
branca.
Crua.
Nua.
A
janela aberta permitia que a luz pálida e suave do dia lá fora
entrasse, e como num sonho, tudo parecia paz. Ela virou a cabeça e
ergueu os olhos para o céu lá fora, respirou
fundo e
devagar
com
os
olhos fechados. Tinha cabelos negros que
se moviam com uma sutileza quase não notável,
a boca sensível e o nariz arrebitado
transmitiam uma fragilidade encantadora.
Passou
o dedo fino suavemente sobre a clavícula, observando a sombra que se
formava ali. Arrastou a mão até o centro do peito, apalpou-o e
então fechou o punho de leve sobre o coração. Ele batia devagar,
sentia-se estranho, com
uma
espécie de vazio que na verdade não estava ali. Ela se sentia
preenchida com algum sentimento tímido, que não a
fazia sentir nada. Só pensar...
A
cabeça agora estava baixa e os olhos ainda fechados. Ela respirava tão
devagar que quase não era possível ver seu peito se mexendo. O
vento fraco movia uma ou duas mechas do cabelo, tocando-a com
ternura, envolvendo-a com o mesmo sentimento neutro que ela sentia
dentro de si.
Em
um movimento súbito, ela abriu e ergueu os olhos vívidos para o
espelho, fitando-se e lembrando das palavras que ouvira mais cedo.
Dos lábios que a tocaram antes de dizer adeus. Do abraço apertado
que poderia ter acontecido antes de ele dar as costas e partir. Em
silêncio, a forma do rapaz sumiu no horizonte, deixando só aquele
sentimento indecifrável que ela sentia agora, sentada sozinha em seu
quarto, olhando no espelho. Sem
saber o que pensar.
O
barulho da maçaneta de leve, o ranger da porta abrindo e o perfume
que adentrou o quarto a fizeram despertar de um profundo devaneio. Um
sussurro de sua boca.
–
Então...
Olhou
para o rapaz através no reflexo a sua frente.
Ele estava parado na fresta de porta que abrira, esperando que ela
dissesse algo. Foi quando a boca dela moveu-se devagar para falar com
a voz distante enquanto fitavam-se no espelho.
– Você ainda me ama?
Matheus Menegucci