À
medida que adentrava a floresta densa e úmida, na esperança de achar uma saída
ou um pouco de luz, sem nem ao menos saber como cheguei ali, a tal floresta
ficava mais negra e assustadora. É confuso dizer que tipo de animal fazia
aqueles barulhos. Ruídos agudos e ameaçadores vindos de um lado, enquanto do
outro, uma gama de sons graves e medonhos, trêmulos e baixinhos, como quem está
assustado, à procura de sua mãe. Foi em meio a tal escuro, que fez minha mente
pensar em milhões de possibilidades, milhões de imagens que nem sequer existiam,
que pude ver a primeira luz. Uma trilha guiada por um ponto fluorescente ao
longe. Engasgado com meu próprio pavor, segui-a.
Aquela
luzinha azul fluorescente foi a única luminosidade que vi por um bom tempo, uma
luz fraca quase sumindo no escuro eterno e negro. A luz se apagou. E não só o
escuro dominou o lugar, como também o frio. Encolhi-me ali no chão, sentindo
uma overdose de sentimentos e melancolias que invadiram todos os meus sentidos
naquele momento. E todos esses sentimentos se resumiam ao neutro.
Meus
olhos nada enxergavam.
Meus
ouvidos nada escutavam.
Minha
língua só sentia o amargo da própria boca.
As
narinas não sentiam nada.
A
pele só se sentia gelada.
Foi
quando, em fração de segundo, todo o nada que me dominava se preencheu. Meus olhos
se encheram de luz quando vi toda a floresta iluminada de neon. Árvores com
folhas coloridas e troncos que escorriam seiva fluorescente. Meus ouvidos foram
invadidos pelo coral em ópera dos pássaros neon multicolores, trajados,
estranhamente, de ternos azuis e gravatas pretas. Minha boca agora se sentia
alegre e doce. O cheiro de vida era tão impactante quanto o calor que agora me
tocava de leve. Parecia o efeito de alguma droga alucinógena, uma espécie de
viajem psicodélica e multicolor.
Ainda
assim, com toda luz e as sensações boas e orgásticas que eu sentia, senti medo.
Muito medo. Talvez mais do que antes. Aquilo tudo era desconhecido para mim, um
universo novo e fantástico, onde a realidade não parecia bem vinda. Senti-me
tão só em meio a tanta vida. Tanta cor.
Girei.
Girei em busca de algo, um caminho, alguém. E achei, em uma de minhas viradas
frenéticas, alguém que logo me roubou o olhar. Encostada ao pé de uma enorme
árvore, uma garota. Pele branca, cabelo claro. Olhos castanhos e lábios azuis.
Parecia ter uns 13 ou 14 anos. Seus lábios azuis fluorescente pareciam ter
brilho próprio, não parecia batom, pareciam naturais.
Ela
me fitava fixamente, fato que só fez aumentar meu medo e angústia. Dei um passo
para trás e então fiquei parado, imobilizado, por algum motivo. Queria sair
correndo, aprofundar-me ainda mais na mata escura que estava antes. Queria sair
daquele mundo neon. Não consegui.
Fiquei
ali, paralisado por um tempo, enquanto ela, parada em seu canto também, ficava
olhando para mim. Parecia me estudar, querer entender algo que era estranho
para ela. Enquanto isso os pássaros, enfiados em seus terninhos engomados,
cantavam alguma canção com notas altas, realmente muito altas, daquelas que
quebrariam copos. Os olhos da menina passavam por todo meu corpo nu no mesmo ritmo
da canção. “Quanto tempo fiquei ali?”
Já
me sentia confortável após tanto tempo parado. Foi estranho quando, sem motivo
ou explicação, as luzes coloridas e fluorescentes começaram a se escurecer.
Tudo começou a se afogar no escuro. As árvores, os pássaros, a menina, eu.
E
então voltamos à mesma cena.
Meus
olhos nada enxergando.
Meus
ouvidos nada escutando.
Minha
língua só sentindo o amargo da própria boca.
As
narinas não sentindo nada.
A
pele se sentindo gelada.
BUDDA