Foto por Marina Menegucci |
De joelhos, ergueu os
olhos e viu o sol laranja sobre sua cabeça, pintando todo o céu ao
redor de si. Fechou-os, quase cega pela forte luz do sol, assim que
algo lhe tocou a face direita do rosto. Levou a mão e sentiu algo se
desfazendo entre seus dedos. Era preto e frágil, cinzas do que quer
que fosse. Olhou para cima e viu muitas delas caindo leve e devagar;
em circulo. Sentiu como se estivesse no olho de um furacão de cinzas
calmas.
Olhou ao redor. O
asfalto deserto, coberto por destroços do que um dia foram carros. O
céu limpo, com nuvens perdidas e sem rumo. Não havia vivalma por
ali. Ela apertou as pálpebras enquanto uma mecha do cabelo ruivo
caia sobre os olhos, tentando acreditar que aquilo era só um sonho,
e que a qualquer momento alguém a acordaria em sua boa e velha cama.
Nada. Levantou-se, os
ombros finos já cobertos de cinzas. Ainda de olhos fechados,
respirou fundo antes de os abrir e ver o horizonte negro. O que sobre
ela era apenas um redemoinho de cinzas, ao longe, no horizonte, se
mostrava como uma tempestade de escuridão... Partindo.
O primeiro passo foi
lento, mas os seguintes foram ganhando cada vez mais velocidade. Ela
queria entender sabe lá o que. Correu atrás da tempestade no
horizonte, com determinação, mas não a alcançou, sabia que não
alcançaria, correu só pra saber que pelo menos havia tentado.
Desistindo, jogou-se de joelhos no chão.
Era tudo muito
confuso, muito sem razão de ser. Ela abaixou novamente a cabeça e
viu-se então na mesma posição de quando recobrara a consciência.
É errado dizer que ela queria uma resposta, pois não sabia nem o
que perguntar para o nada em volta de si. Não sabia onde estava, nem
o que fazer. Não fazia a mínima ideia de qual era o caminho de
casa. Então decidiu partir, cambaleando, na direção em que viera,
oposta à nuvem que partia ao longe. Mas, olhando para o chão, não
viu outra enorme tempestade negra surgindo no céu já não tão azul
à sua frente. Foi.
Matheus Menegucci