Por muito tempo
estive lá no fundo, no escuro. Ouvindo só as batidas do coração e
o movimento suave da água calma. Se olhasse para cima, poderia ver
uma fresta de luz cortando o oceano sobre mim, mas a mesma nunca
chegou a me tocar. O ecoar do que quer que fosse ali embaixo me
assustava. Podia ouvir, mesmo que muito pouco, o barulho do mundo lá
fora; Talvez fossem só minhas lembranças ressoando em minha mente.
Não era frio, mas não me aquecia. Era neutro e normal. Sempre.
Se eu já havia
pensado em sair de lá? É claro que já. Tentei me mover, nadar pra
superfície. E nadei... Nadei e nadei. E quando já não me aguentava
mais, percebi não ter saído do lugar. Percebi que aquele mar era
mais imenso que meu desejo de sair dali. Percebi que não bastava
tentar. Faltava algo. Algo maior que o próprio oceano negro ao meu
redor.
Já havia me
conformado com a condição de estar ali. Parei de mover as pernas e
os braços pra boiar. Deixei o corpo descer eternamente. E não me
pergunte como eu fazia pra respirar, pois, durante todo o tempo que
estive lá, nunca pensei nisso. De fato, eu não respirava, e foi
quando lembrei de respirar que descobri como sair dali.
Fiquei tanto tempo
sem o ar, que pensei já não precisar dele. Mas de súbito, num
momento calmo e quieto, meus pulmões suplicaram ar, fizeram toda a
mansidão do mar se dissipar em uma tempestade dentro de mim. Eu me
contorci, o corpo doía sem ar. Tive a sensação de fraquejar, como
se meu corpo quisesse dormir. Um estranho ruído constante e sem
forma invadiu minha cabeça junto dos meus soluços subaquaticos.
Creio que o que me pareceram horas de angústia foram apenas alguns
poucos segundos, até que eu desmaiei de olhos abertos, sem forças,
afundei ainda mais.
Ainda podia ver,
mesmo que minha visão escurecesse pouco a pouco, aquela fresta de
luz que, em poucos segundos, sumiu na escuridão. Meus olhos
fecharam-se por completo, eu sabia, não havia como voltar.
Mas, no último fio
quase morto de esperança, uma luz vermelha atravessou a escuridão
do oceano, abrindo-me os olhos. Era eu, brilhando de alguma forma,
como um peixe bioluminescente. Senti-me forte e vivo. Senti-me, pela
primeira vez, acreditando em mim. Em uma só impulso para cima eu
cruzei o oceano, iluminando-o de vermelho. Atravessei a parte negra,
a parte azul escura e a parte azul mais clara. Vi a superfície. Vi o
céu escuro da noite, ainda debaixo d'água. E então o ar invadiu
meus pulmões e eu parei de brilhar. Respirei por bons segundos,
acostumando-me novamente com o ar. E então, com um suspiro de
cansaço, contemplei a imensidão do céu sobre o mar infinito sob mim.
Matheus Menegucci
Nenhum comentário:
Postar um comentário