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Onde é que eu to?
Meus
passos apressados ecoam em ruas desertas. “Onde eles estão? Todo mundo! Para
onde foi todo mundo?”. De fato, o que todos disseram durante todos os dias da
minha vida estava certo: há algo de errado comigo. “Como cheguei aqui? Por que
cheguei aqui? Por que aqui?” É o ecoar de tudo o que há em minha cabeça neste
exato momento. “Sou eu? Quem sou eu?”
Os
postes brancos e brilhantes iluminam a noite fria e quieta na qual eu vago.
Eles são minha única companhia, uma vez que a lua também me deixou. O terno
amarrotado de tanto andar e correr por essas ruas, em busca de qualquer coisa,
qualquer sinal. Em busca de respostas, ou melhor, em busca das perguntas que
nunca fiz no caminho até aqui. A gravata frouxa, rosto suado. Sinto meu cabelo,
antes penteado para trás, cair sobre meu rosto. “Por que minhas mãos estão
presas?”, acabo de notar a fita cinza amarrada em meus pulsos, prendendo um ao
outro; São resistentes, difíceis de tirar, mas nem me preocupo com isso, tenho
pensamentos demais para decifrar.
Eu
poderia gritar, e grito.
Nada além do ecoar da minha própria voz entre
os prédios. “Onde estão os carros? Onde está minha maldita cidade?”. Não há
nada além de mim. Nada além do homem errado.
- Onde é que eu to?
Grito mais uma vez, sem
esperança de resposta. Por que ainda estou correndo sem direção? Uma vez que
sei que não encontrarei nada. Cansado, jogo-me na beira da estrada. Olho para o
céu. Não há estrelas. Fico calado, ouvindo minha respiração. Ouvindo os
próprios pulmões ofegantes ecoando nos prédios da metrópole. “Quem sou eu? Quem
sou eu?”. Não que eu não saiba quem sou eu. Só queria saber se de fato sou eu.
Se este era meu destino. Se o caminho que tomei era o meu. Talvez eu tenha
errado, pegado o caminho de outro. Talvez eu esteja no lugar de outro.
Talvez eu tenha nascido
no lugar de outro.
Na
casa de outro.
Com
a família de outro.
Talvez
eu tenha tomado as decisões de outro.
O
sucesso de outro.
Talvez
eu seja outro, diferente do que era para ser.
Talvez
haja outro em meu lugar.
“O
que diabos aconteceu?”
Mas, pensando bem,
tomar o caminho de outro não me fez tão mal. Mesmo que tenha feito de mim a
“ovelha negra” da família, levou-me à um bom futuro. Eu tive sucessos e
realizações. Fiquei rico. Mais que rico. Eu me tornei uma espécie de Rei.
Talvez um Deus.
Fico imaginando o que
teria acontecido se eu tivesse nascido na casa certa. Sem as desgraças que
tive. Sem o “visitante”. É provável que tudo tenha acontecido ao contrário. Eu
teria nascido em uma família rica, seria um homem de sucesso até certa idade, e
depois, fracassaria. Eu seria um ninguém. Não teria dinheiro, mulheres ou fama.
Talvez eu estivesse lecionando português em uma escola onde nem os outros
professores me respeitariam. Seria motivo de piada para os alunos. Assim como
foi minha vida antes de eu me tornar o que sou.
Mas talvez eu tenha
nascido no lugar certo. Com os descendentes certos. Com o signo certo, não que
isso importe. E talvez tenha dito as palavras erradas para a pessoa errada que
me deu conselhos errados. Que me tornou a pessoa errada. O sucesso tem cheiro
de puta cara, daquelas que você se apaixona se não souber que é puta. E eu não
sabia. O maldito visitante não disse. Ele deixou eu me apaixonar. Convenceu-me
a tomar a estrada errada, na direção errada, com as intenções e idéias erradas.
Ele fez eu me apaixonar pela puta errada, na esquina errada, com a camisinha
errada.
Mas de que vale tudo
isso? Por que digo tudo isso? Uma vez que meu fim é bem semelhante aquele
começo. Eu, sozinho.
Talvez eu tenha o
sangue errado.
Os genes errados.
Os talentos errados.
Talvez eu seja o homem
errado.
Com o destino errado.
No terno errado.
Na rua errada.
Talvez eu esteja
errado, mas é mais provável que eu só esteja no plano errado.
E acho que não dá
pra reajustar.
Cara... Se esse texto você achou meio fraco eu não quero nem imaginar os seus melhores... Muito bom Matheus... E lembre-se, não deixe o blog morrer...
ResponderExcluirQue venham outros textos tão bons quanto esse...
Olá! Primeira vez que vejo o blog, e li varios textos já. De verdade, você escreve muito bem! Tem varios excelentes textos, certamente serei um "freguês" daqui! Hehehe. Espero ver mais de suas belas palavras.
ResponderExcluirJá esta nos favoritos