terça-feira, 16 de abril de 2013

O Último Varal do Céu Azul




                O vento assopra quieto ao sul, fazendo flutuar os panos. No fundo do quintal, um varal repleto de roupas e tecidos brancos, seriam imaculados se o tempo não os houvesse transformado em branco amarelado, encardido. E o tempo também se fez presente no rosto da mãe que, cansada, equilibra o peso do corpo sobre os pés, balançando levemente com o assoprar do vento, assim como o vestido floral que usa. Ela olha aqueles panos brancos sendo empurrados levemente pra frente e, no mesmo instante, voltando.
                O céu como um lençol de intenso azul, incapaz de proteger do calor do sol, 40 graus ardendo nas costas. E ali, sentados à sombra do morro no asfalto deserto, três meninos brincam com seus carrinhos velhos de plástico. Sem camisa, magros, com as costelas desenhadas na pele parda. Não há nuvens naquele céu.
                As crianças não se importam de ficar no meio da rua - rua aquela que fora movimentada um dia -, pois olham de um lado para o outro, e sabem que nada virá; Nenhum carro, nenhum passante, nenhuma ideia ou pensamento sequer. Ao contrário deles, a mãe se importa em lavar direito as roupas, cada vez melhor, mesmo sabendo que, inevitavelmente, água não limpa o que o tempo encardiu.

Matheus Menegucci