quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Catarse



– Você ainda me ama?
Ecoou a voz feminina junto de um olhar preto e branco, sem dizer muito. As pálpebras se fecharam e abriram rapidamente, dando um pouco mais de brilho aos olhos verdes, grandes e distantes. As curtas mexas de cabelo escuro recaídas na face eram levemente assopradas pelo vento. O rosto parecia inerte, a boca se movia suave, fazendo parecer que o som não saia dali. Um suspiro, um sussurro.
– Ainda me ama?
Um silêncio assustador e frio como resposta, enquanto ele olhava para o chão, segurando o rosto com a palma das mãos. O vento cantava alto, assoprando ferozmente as folhas das grandes árvores daquela praça deserta.
A cabeça parecia pesada, como se o rosto fosse se desprender e cair no chão a qualquer momento. O que o perturbava tanto na pergunta que ela fez? Ele sabia a resposta, tinha tanta certeza daquilo como nunca teve de qualquer outra coisa em sua vida. Mas preferiu ficar em silêncio, sentindo a ausência que aquele ato lhe traria. Preferiu ficar quieto, sentindo tudo o que a resposta que guardava consigo já lhe fizera sentir e querer chorar, partir.
– Você não me ama? – A voz dela parecia vazia e perdida.
Ele virou o rosto para ela, olhou-a nos lábios, pois não queria se perder nos olhos. Expirou forte, como se jogasse fora todo um momento de reflexão. Ainda assim não disse nada, só contemplou. Diferente dela, tinhas os olhos vívidos e atentos, como se houvessem trocado de papel por um único dia. Ele sentia que já não podia a prender, segurá-la consigo. Nunca tentara de fato, e agora era tarde. Percebeu que o sofrer é o fim de qualquer caminho que se tome. Aproximou-se e beijou-a suavemente, sem pressa, sem medo. E quando afastaram seus rostos, os olhos dela não pareciam tão distantes mais.
– Ainda me ama?
Ele sentiu todo o seu redor se transformar em cinzas flutuantes, viu tudo ficar branco até que sobrou só ele e ela. Sabia que era o certo a se fazer. E ao pé do ouvido dela, com peso no peito e uma lágrima brotando escondida no canto do olho, ele mentiu como nunca antes mentira:
– Eu nunca te amei.


Matheus Menegucci

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