terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Horizonte em Chamas (O Gigante pt. 3)

Parte 1
Parte 2



                Diferentemente daquele outro dia, onde a chuva trazia a tona toda a angústia e solidão, agora fazia sol, e o mesmo, assim como a chuva, era uma representação dos sentimentos que transbordavam dos olhos daqueles dois jovens. Um sentimento quente e aconchegante.
                Sentavam-se sobre uma pedra negra, coberta pela copa de uma enorme árvore que, infelizmente, não dava frutos. A jovem garota que gostava de sentir os sentimentos da terra, ouvir suas palavras, e o comprido jovem de pernas metálicas. Ambos contemplavam o horizonte em chamas. Contemplaram o céu laranja de sol poente que, assim como eles, não era eterno, mas, voltaria a aparecer no dia seguinte. Trocavam umas palavras vez ou outra. Sentiam a paz de estar com alguém igualmente diferente de todo o resto. Dois pontos singulares e, aparentemente, irrelevantes.
                A cabeça do sol ficava, a cada minuto, menor. Enquanto isso, os dois se lembravam de tudo que passaram até ali. Lembraram dos risos, das pessoas chamando-os de diferentes. Lembraram de como isso os incomodava. Lembraram de dias cinzas e sem cor, dias que pintavam uma tela de seus puros sentimentos. Sentimentos amargos, sem vida, neutros. Lembraram da chuva, da solidão. Lembraram da Angústia de gritar ao léu, no seco do ar, sabendo que ninguém ouviria, sabendo que ninguém viria perguntar o motivo da dor. E toda aquela dor, todos aqueles dias, foram pintados de cinza, pois era assim que eles se sentiam. Cinzas.
                Por fim, lembraram-se do dia em que se encontraram e, por uma obra do acaso, perceberam-se semelhantes na dor. Semelhantes na cor. Então dois jovens cinza conheceram uma nova cor. Pacífica e quente. Uma cor que só existia quando aquelas duas manchas cinza se uniam. Não estavam mais sós.
                Então, no horizonte, a luz sumiu. O escuro de uma noite negra e pesada invadiu o local. Mas era quente. Dois corpos se abraçaram no escuro, lembrando-se agora da cor.  
                Um dia aquelas duas manchas cinza se dissiparam e, pelo resto de toda a eternidade, nunca mais se viu outras manchas como aquelas. Mas outras manchas surgiram, manchas diferentes. Sua essência era a diferença. Ser diferentes os fazia originais. E todas essas manchas estão destinadas, querendo ou não, a encontrarem manchas semelhantes que se igualam na diferença.


Matheus Menegucci

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