terça-feira, 22 de maio de 2012

UM (Pt. 1)

        A flor de fogo brilhava no horizonte, cada raio de luz que dela vinha, iluminava as ruínas do que sobrou do mundo, que agora era cinza e destruído pelo homem. Seu brilho pintava de um intenso laranja o céu, me fazendo acreditar que talvez eu não tenha sido o único, o único a sobreviver, o único a presenciar a flor de fogo poente. Eu podia respirar, eu queria respirar, eu respirei, enquanto a luz intensa atravessava meu corpo e minha alma, eu me senti aquecido. Mas logo o céu já não era laranja, estava dominado pela escuridão, e a flor já não reinava sobre o céu, ela me deixou sozinho outra vez, no escuro, ouvindo a minha própria respiração, eu quis chorar, senti o frio novamente, e mais uma vez pensei estar sozinho no mundo, condenado a vagar em busca de nada, caminhar sobre os destroços do que um dia foi a civilização, o ultimo, aquele que mesmo estando vivo, não teria a quem contar a historia, não teria alguém para abraçar, ou simplesmente dizer "oi".
        Mas logo percebi que o escuro não era tão negro quanto pensei, algo ainda iluminava o local, eu me virei, e lá estava ela, na ponta céu, brilhando de um modo como eu nunca havia visto antes, a lua, em sua forma mais majestosa, cheia de luz, cheia de vida, cheia. Por algum motivo me senti culpado por nunca ter reparado o quão bela e poderosa ela podia ser, só naquele momento, em um mundo pós apocalíptico, pude perceber sua grandiosidade. Se me recordo bem, quando eu era pequeno e estava na escola primária, minha já falecida professora dizia que a lua só brilhava por que o Sol a iluminava, só então eu pude ver que não estava só, o Sol, minha flor de fogo, mesmo não estando brilhando do meu lado do mundo, iluminava a lua, ele ainda estava lá, para me fazer acreditar que talvez haja vida, que talvez haja alguém lá fora, um animal que seja, alguém em quem eu possa confiar, para que eu não me sinta só, alguém.
        Ainda estou só, caminhando incansavelmente em busca de algo que eu nem ao menos sei se está lá, e onde é "Lá"? Mas continuo, apesar da dor, das duvidas, das pedras. Eu continuo, juntando as memorias daqueles que já se foram, pegando suas fotos e imaginando como deve ter sido sua vida. Eu sigo, sozinho, comigo, acreditando não ser mais UM...


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