Meu
quarto é tão escuro. E ainda assim me causa dor na vista, cansaço. Vejo os
quatro cantos e paredes imersos nessa escuridão, mas eu, sentado em uma cadeira
no centro, estou iluminado. O único ponto de luz em meio a tanto escuro sou eu.
Não que eu brilhe, ou algo do tipo. “Talvez isso seja um sonho!” A luz está
apagada, mas o centro do quarto está iluminado. Iluminado com alguma forma de
luz sobrenatural que não provém de lugar nenhum. “Estranho!”
E
o que faço aqui? Sentado nesta cadeira olhando para frente sem ver nada. Nem
minhas memórias posso ver, só o escuro. Onde está a porta? E as janelas? Por
que digo que aqui é meu quarto? Uma vez que não vejo nada além de um simples
pedaço do chão que, por sua vez, nem se parece com o do meu quarto.
Pisco
tão devagar quanto meu estado sonolento permite. Sinto descer uma gota fria de
suor da minha testa. Algum som misterioso parece estar vindo detrás de mim.
Parece som de água, som do fundo do mar. Som de vida. Mas não é bom. Soa-me um
tanto quanto predatório.
No
mesmo ritmo calmo e sonolento, algo estranho acontece. Vejo duas coisas estranhas
saindo do escuro atrás de mim. São pontiagudas, molhadas e grossas. Sem falar
das ventosas que abrem e fecham. São enormes. Dois tentáculos negros,
inicialmente, que logo se revelam quatro. Um deles me toca o ombro, é frio e
mole, mas, parece ser bastante forte. Logo vejo uma multidão de oito tentáculos,
ou devia dizer braços, tocando em mim, massageando-me. Fazendo um, aparentemente,
dócil carinho. Talvez me estudando. Tocando meu corpo.
Mesmo
que frios, ele aquecem minha solidão, sinto-me como se fosse um deles. Mas não,
eu sou a presa. E sei disso porque os tentáculos que antes me acariciavam,
agora estão enrolados em mim, firmemente, não me deixam mover. E quebrando todo
o ritmo da cena, eles me puxam veloz e ferozmente para o escuro. Só posso ver o
ponto iluminado diminuir enquanto sumo na escuridão de tentáculos negros.
Sufocado.
Devorado.
BUDDA
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